segunda-feira, novembro 13, 2006

Rostos de Timor-Leste (1)

Quero começar por afirmar que este post não se acaba por aqui. Conforme eu vá engrossando a lista de fotos sobre as pessoas de Timor-Leste, é conveniente para quem goste desta minha maneira de ver e viver o local onde estou actualmente a morar, o reveja, pois irei actualiza-lo com as mais belas e interessantes fotos de rostos e expressões que vou fazendo.

Não consigo definir o povo timorense como sendo único do ponto de vista étnico, porque salta logo à vista as diferenças entre si. Uns são mais robustos outros mais delgados, uns mais escuros e outros mais claros. Os seus cabelos variam entre a carapinha e os completamente lisos. E dá-me a entender que tal diversidade está geograficamente bem definida. No entanto em Dili tudo se mistura, e é onde vi a maior concentração de mestiços, quer de origem europeia como asiática.








De acordo com diversas fontes e eu sito uma delas (http://www.theodora.com/wfbcurrent/east_timor/east_timor_people.html), os timorenses são de origem austronesia digo malaio-polinésia, papua e chinesa. Naturalmente esta mistura encontra-se miscigenada com a cultura e genes europeus, nomeadamente português.

É impressionante a simpatia que se recebe das pessoas quando passamos por elas. Mesmo deslocando-nos de carro, vêm cumprimentar-nos dando-nos automaticamente os bons-dias e demonstrando por nós uma curiosidade marcante. Isto acontece sobretudo quanto mais nos afastarmos de Dili.

De tantos pedidos que nos fazem, houve um que me impressionou bastante, foi numa aldeia no sopé do monte Ramelau. Um menino dos seus treze anos pediu-nos que trouxéssemos livros de português pois somente a “Senhora Professora” é que os tinha. Sei de fonte não confirmada que existem milhares destes livros em Dili em contentores à espera de serem distribuídos. Este menino que foi alvo da minha câmara falava um português muito bom, tendo em conta com o resto da amostragem. Não se pense que os timorenses falam muito bem a língua de Camões. A excepção está nos que têm uma educação mais elevada, que são infinitamente poucos e os mais velhos que fazem parte dos resquícios da presença colonial portuguesa. Após a invasão indonésia de Dezembro de 1975, o português foi bruscamente substituído pelo Bahasa, língua oficial da Indonésia que se houve nas ruas de Dili a par do Tétum.

As gentes das zonas rurais de Timor-Leste, pouco melhores condições de vida têm em relação aos seus antepassados. Muitos deles vivem numa economia de subsistência, não tendo qualquer hipótese de trocas comerciais relevantes com as outras zonas devido às muito precárias, muito perigosas e lentas vias de comunicação. Somente viaturas todo-o-terreno e animais é que conseguem progredir por grande parte destas estradas pelo que penso que este deveria ser o investimento mais urgentes e prioritário, diria eu até mais do que a própria educação.

Falando da educação, é fantástico ver os alunos saírem das escolas, todos eles fardados uniformemente com diferentes cores das várias escola existentes. Foi com o que me deparei no sábado de manhã na localidade de Aileu, aquando do seu regresso a casa para o almoço.

Estou a ler dois livros que me emprestaram e que os acho muito interessantes. São eles:

Timor Loro Sae 500 anos de Geoffrey C. Gunn, Livros do Oriente

East Timor, The Price of Freedom de John G. Taylor, Zed Books


quinta-feira, novembro 09, 2006

Nem tudo são rosas

Quem leia os meus dois últimos posts fica a pensar que isto aqui é um mar de rosas, na verdade não o é. Existem muitos problemas e carências de vária ordem espalhados por esse país fora.

Saindo daquele canto da cidade onde moro, que é junto ao mar e o mais encostado a leste (lado do Cristo-Rei), que é um verdadeiro oásis comparado com tudo o resto o que se vê pela cidade.

Pelo que os timorenses me dão a entender, a vida desenrolava-se com alguma naturalidade na cidade, permitindo um certo desenvolvimento e qualidade de vida. Desde Maio último e depois da confusão gerada pelo estalar do “conflito” entre “Lorosaes” e “Loromunos”, designação esta até então inexistente uma vez que Lorosae são todos os habitantes deste lado da ilha de Timor (Timor-Leste), o país e principalmente a cidade de Dili caiu numa espiral de violência que levou à destruição parcial desta. Os chamados "Lorosae" a quem as casas na sua maioria pertencia, começaram a concentrar-se em campos em Dili e na sua periferia, como por exemplo em Metinaro e em Hera, estando assim mais protegidos dos outros.

Os chamados “Lorosae” são timorenses provenientes da parte leste de Timor-Leste, que por sinal foram aqueles “que mais contribuíram” em favor da resistência contra a ocupação indonésia. Um observador mais atento e tentando ser o mais imparcial possível, depressa verifica que os habitantes da parte oeste tinha muito menos hipóteses de resistir, uma vez que este território faz fronteira com o Timor indonésio e portanto muito mais ocupado por estes.

Daquilo que dá para perceber, a violência é gerada por grupos de “artes marciais” que existem espalhados pela cidade em torno de ginásios e que formam verdadeiros gangs com bastante influência na sociedade timorense. Disseram-me que estes grupos foram formados pelos indonésios de modo a manter a juventude timorense da altura ocupada e preparados para combater a guerrilha timorense, mas a verdade é que ela repercute-se até à actualidade.

Temos que ver esta sociedade de um ponto de vista não europeu. Apesar da forte influência portuguesa e cristã, esta sociedade tem muito de si própria e só assim se explica a resistência às sucessivas ocupações sentidas com o passar dos séculos. Os portugueses, os japoneses, os indonésios e já se fala nos australianos.

Existem relatos de extrema violência contada por portugueses em que cabeças decepadas eram o prato forte e o canibalismo uma realidade. O que mantinha os opressores em constante alerta e pânico. Isto pode ser uma explicação do porquê desta tendência para a violência, inexplicável aos nossos olhos.

É mais do que evidente que existe uma fonte de instabilidade bem localizada, que consiste no interesse que Timor-Leste suscita na comunidade internacional. Costumo ouvir que não existe pior sina, do que um país ser pobre e com muitos recursos naturais. Em situações destas, as facções e partidos são facilmente manipuláveis pelos lobbies instalados no mundo cruel dos vários interesses nacionais.

Neste momento está-se a assistir (ou assistiu-se) na cena internacional à concessão dos campos petrolíferos, ouvem-se proporções na distribuição dos lucros de 90% para os prospectores e 10% para o estado timorense. Se tivermos em conta que em todo o lado existe corrupção, depressa percebemos que montante proveniente desta riqueza vai ser investido no bem-estar dos timorenses e no progresso do país.

Dizem que a última crise deve a sua origem ao facto do ex-primeiro ministro ter-se virado para outros países nomeadamente do golfo pérsico em busca de números mais bem simpáticos para a nação timorense, tendo sido parado por quem tem mais influência sobre este país, e que por sinal têm vindo a ser gradualmente mal vistos por parte da sociedade civil, sem esquecer as tricas que este político teve com a igreja. E deste assunto, que é pura conversa de rua aqui em Dili não vou falar mais nada.

quinta-feira, novembro 02, 2006

Comentários ao post anterior

Não sabei porquê, mas o post anterior não tem a opção para comentários.
Deixem por favor os vossos comentários neste.

Obrigado