quinta-feira, novembro 09, 2006

Nem tudo são rosas

Quem leia os meus dois últimos posts fica a pensar que isto aqui é um mar de rosas, na verdade não o é. Existem muitos problemas e carências de vária ordem espalhados por esse país fora.

Saindo daquele canto da cidade onde moro, que é junto ao mar e o mais encostado a leste (lado do Cristo-Rei), que é um verdadeiro oásis comparado com tudo o resto o que se vê pela cidade.

Pelo que os timorenses me dão a entender, a vida desenrolava-se com alguma naturalidade na cidade, permitindo um certo desenvolvimento e qualidade de vida. Desde Maio último e depois da confusão gerada pelo estalar do “conflito” entre “Lorosaes” e “Loromunos”, designação esta até então inexistente uma vez que Lorosae são todos os habitantes deste lado da ilha de Timor (Timor-Leste), o país e principalmente a cidade de Dili caiu numa espiral de violência que levou à destruição parcial desta. Os chamados "Lorosae" a quem as casas na sua maioria pertencia, começaram a concentrar-se em campos em Dili e na sua periferia, como por exemplo em Metinaro e em Hera, estando assim mais protegidos dos outros.

Os chamados “Lorosae” são timorenses provenientes da parte leste de Timor-Leste, que por sinal foram aqueles “que mais contribuíram” em favor da resistência contra a ocupação indonésia. Um observador mais atento e tentando ser o mais imparcial possível, depressa verifica que os habitantes da parte oeste tinha muito menos hipóteses de resistir, uma vez que este território faz fronteira com o Timor indonésio e portanto muito mais ocupado por estes.

Daquilo que dá para perceber, a violência é gerada por grupos de “artes marciais” que existem espalhados pela cidade em torno de ginásios e que formam verdadeiros gangs com bastante influência na sociedade timorense. Disseram-me que estes grupos foram formados pelos indonésios de modo a manter a juventude timorense da altura ocupada e preparados para combater a guerrilha timorense, mas a verdade é que ela repercute-se até à actualidade.

Temos que ver esta sociedade de um ponto de vista não europeu. Apesar da forte influência portuguesa e cristã, esta sociedade tem muito de si própria e só assim se explica a resistência às sucessivas ocupações sentidas com o passar dos séculos. Os portugueses, os japoneses, os indonésios e já se fala nos australianos.

Existem relatos de extrema violência contada por portugueses em que cabeças decepadas eram o prato forte e o canibalismo uma realidade. O que mantinha os opressores em constante alerta e pânico. Isto pode ser uma explicação do porquê desta tendência para a violência, inexplicável aos nossos olhos.

É mais do que evidente que existe uma fonte de instabilidade bem localizada, que consiste no interesse que Timor-Leste suscita na comunidade internacional. Costumo ouvir que não existe pior sina, do que um país ser pobre e com muitos recursos naturais. Em situações destas, as facções e partidos são facilmente manipuláveis pelos lobbies instalados no mundo cruel dos vários interesses nacionais.

Neste momento está-se a assistir (ou assistiu-se) na cena internacional à concessão dos campos petrolíferos, ouvem-se proporções na distribuição dos lucros de 90% para os prospectores e 10% para o estado timorense. Se tivermos em conta que em todo o lado existe corrupção, depressa percebemos que montante proveniente desta riqueza vai ser investido no bem-estar dos timorenses e no progresso do país.

Dizem que a última crise deve a sua origem ao facto do ex-primeiro ministro ter-se virado para outros países nomeadamente do golfo pérsico em busca de números mais bem simpáticos para a nação timorense, tendo sido parado por quem tem mais influência sobre este país, e que por sinal têm vindo a ser gradualmente mal vistos por parte da sociedade civil, sem esquecer as tricas que este político teve com a igreja. E deste assunto, que é pura conversa de rua aqui em Dili não vou falar mais nada.

4 Comments:

At sexta-feira, 10 novembro, 2006, Blogger Missão a Timor said...

Thank you.
I have more photos already prepared, but i'm waiting for the best opportunity.

Tomorrow I'll climb Ramelau, the highest mountain in the island with 2960 meters. I'll take pictures.

 
At sexta-feira, 10 novembro, 2006, Anonymous Anónimo said...

Notas de culinária

Enquanto que os timorenses com os seus instintos canibalescos se comem uns aos outros, as grandes potências hão-de ficar com o petróleo, e em troca hão-de fornecer palitos aos vencedores para se irem entretendo a palitar os dentes.

Conta-se que para aí numa ilha desses mares longínquos, foi parar um
missionário com a nobre tarefa de envangelhizar os nativos, que por sinal e à semelhança de muitas outras ilhas eram canibais. Os nativos comiam os seus inimigos com o fim de lhes ficarem com o poder.
O missionário consegui convencer os nativos do poder de Deus, e que ele era o Seu representante na terra.
Em face de tanto poder, comeram o missonário com o fim de ficarem com o poder de Deus.
Moral da história: em terra de canibais, cuidado com que se apregoa.

 
At sexta-feira, 10 novembro, 2006, Anonymous Anónimo said...

"Nem tudo são rosas"
É bem verdade!
Mas será preciso haver rosas em todos os jardins?
Não haverão outras flores igualmente lindas e perfumadas?!
Há tantas maneiras de ver o Mundo!
:)

 
At domingo, 12 novembro, 2006, Anonymous Anónimo said...

Vou tentar acompanhar esta missao, mas estou a entrar neste esquema de blog, vamos ver se consigo Xavier

 

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