sábado, outubro 28, 2006

“Primeiro estranha-se depois entranha-se”

Caros amigos e leitores deste blog, este é o primeiro post que edito após a chegada a Dili. Cheguei na sexta-feira passada depois de não ter conseguido voo de Darwin devido ao aeroporto de Dili se encontrar encerrado em virtude de distúrbios.

A primeira impressão que se tem ao entrar neste país é de choque, devido às muitas diferenças que existem em relação ao nosso. Apesar de falarmos muito mal do nosso muito querido Portugal, ao passarmos por outros países, concluímos muito rápido que definitivamente pertencemos ao pelotão da frente. Mas enfim, não o quero comparar a Timor-Leste, um país muito jovem e saído de um passado muito conturbado e cujo presente está muito indefinido e portanto cheio de incógnitas.

Encontro-me instalado num hotel que é do melhor que se pode encontrar por aqui. Tem um ambiente familiar e em Portugal teria uma cotação de 1 ou 2 estrelas. Nele habitam pessoas que na sua grande maioria são cooperantes: médicos, magistrados, militares, professores e de muitas outras profissões e de diferentes nacionalidades.

Ao conversar com os cooperantes, senti que tiveram a mesma sensação de choque que tive ao sair da “gare” do aeroporto. Mas como me disseram que Timor-Leste “primeiro estranha-se e depois entranha-se”. E de facto parece que é isso que me está a acontecer, porque as pessoas são de uma simpatia extrema, e refiro-me ao pessoal nativo e o ambiente entre os cooperantes é muito bom.

O primeiro dia foi passado a fazer os primeiros contactos com as pessoas com as quais vou trabalhar, e à boa maneira portuguesa houve patuscada para de certo modo “quebrar o gelo” e pôr os novos elementos a conversar com os já existentes.

O preço dos bens e serviços é um pouco elevado em virtude de aqui não se produzir praticamente nada. Os bens vêm na sua maioria da Austrália e da Indonésia. Mas também devido ao facto de existirem muitos estrangeiros com uma capacidade financeira acima da média, incluindo os portugueses cujos ordenados são bem mais elevados do que se estivessem em Portugal, já que não lhes é deduzido o IRS devido ao estatuto de cooperante, mais outros suplementos que diferem de profissão para profissão.

O clima é tropical, calor todo o ano. As temperaturas neste momento encontram-se a subir (rondam os 30ºC tanto de dia como de noite), já que nos aproximamos a passos largos do Verão e simultaneamente do tempo das monções. Nessa altura, dizem os “veteranos” que o calor e a humidade é tanta que é difícil respirar.

Hoje acordei muito tarde após ter vivido a primeira noite de convívio nas esplanadas plantadas à beira mar, locais estes onde a grande maioria do pessoal da cooperação se encontrava. De certo modo fez-me lembrar outros tempos passados em Moçambique.
Apesar do ambiente entre estrangeiros e timorenses ser bom, existe sempre a tendência para as pessoas se juntarem por grupos de afinidades e de interesses onde se vêem muito poucos timorenses.
Passei a parte da tarde na praia com uma temperatura da água a rondar os 30ºC, num mar profundamente azul e verde que dá vontade de entrar nele sem exitações. Um local ideal para se fazer mergulho, nem que seja somente snort e apneia.
A situação em termos de segurança é um tanto ou quanto precária, mas sem grande perigo para os estrangeiros. Sendo a violência focada entre timorenses que artificialmente alguém os dividiu em Loromuno e Lorosae (Oeste e Leste), mas essas estórias ficam para outros posts e à medida que os comentários começarem a surgir neste blog.

5 Comments:

At segunda-feira, 30 outubro, 2006, Anonymous Anónimo said...

Sem ter a pretensão de ser uma nova versão do Einstein, direi que no mundo é tudo relativo. É-o o espaço, é-o o tempo, e sobretudo o espaço aonde passamos o tempo.

Ora vejamos:
- Em Portugal tu estás na cauda da Europa.
- Em Timor tu estás no rabo do Mundo.
- Noutros países subdesenvolvidos e caóticos tu estarias no cu de Judas.

Pelo menos nos rabos do Mundo não existe o conceito de stress. Inspirando-me em Mark Twain, diria: quão infelizes são os timorenses que desconhecem a existência do stress (a citação original é: quão infelizes são os nativos do Hawai que desconhecem a existência do inferno).

Quanto ao cu de Judas, ninguém quer por lá andar (???).

 
At segunda-feira, 30 outubro, 2006, Anonymous Anónimo said...

Este comentário foi removido por um gestor do blogue.

 
At segunda-feira, 30 outubro, 2006, Anonymous Anónimo said...

Pelo que tenho visto e ouvido sobre pessoas que vivem fora dos seus lugares de origem, uma coisa te posso sugerir: não convivas só com os estrangeiros. Aprenderás muito mais, tirarás muito mais proveito e, pessoalmente, crescerás muito mais misturando-te e convivendo com os locais.

 
At segunda-feira, 30 outubro, 2006, Anonymous Anónimo said...

Ó pázinho, pois se tu estás nos antípodas, ou quase, isso é mesmo como estar no mundo de pernas para o ar! E claro que aí é o rabo do mundo enquanto que aqui é só (mesmo?) a cauda da Europa. Tenho de concordar com o Luís Duarte.
Olha lá e o que é preciso para ser cooperante?
Eu que estive para ir para Alemanha (não como cooperante que elas já são a cabeça da Europa, se é que alguma vez foram a cauda...), fiquei com bichos carpinteiros para ir ver os outros mundos que por aí há, incluindo aqueles que nós demos ao mundo. Por isso conta lá de que cooperantes se precisa nesse clima tropical e de gente simpática.

Um xi da tua prima.
SG

 
At terça-feira, 31 outubro, 2006, Blogger Missão a Timor said...

Como resposta aos três últimos comentários, o que eu tenho a dizer é que eu convivo perfeitamente com o pessoal de cá. Na verdade e devido ao meu estatuto, sei que vou começar a ser convidado para ir comer a casa deles. Neste momento ainda ando a "apalpar terreno".

Quanto ao ser cooperante, já várias pessoas me têm contactado por e-mail a fazer essa mesma pergunta. No entanto a resposta encontra-se somente em Lisboa. Portanto minha querida prima, ligas paras os diversos ministérios (ou via net) e vês o que há. O que te posso dizer é que o aparelho de estado está quase todo representado aqui.

Boa sorte

 

Enviar um comentário

<< Home