domingo, dezembro 24, 2006

As principais fases da história de Timor

"6. As principais fases da história de Timor

Procurou-se resumir os principais factos de cada um destes períodos, por forma a evidenciar a realidade da história luso-timorense, tendo presente, nesta abordagem, o conceito do grande orador Pe. António Vieira "A história é mãe da verdade, émula do tempo, depósito das acções, testemunho do passado, exemplo e aviso do presente e advertência do futuro".

De 1512 a 1665
A acção dos Dominicanos. Os primeiros Capitães Mor

Ficaram já referenciados os primeiros relatos acerca de Timor, deles se inferindo que os contactos com a ilha se limitaram nesta fase, a descrições de viagens, das diferentes armadas que sulcaram o mar das ilhas das especiarias, não existindo ocupação.

O primeiro português que é referenciado como tendo permanecido em Timor, durante algum tempo é Frei António Taveira, isto em meados do sec. XVI, numa altura em que se utilizou, também, a denominação de "Ilha de Santa Cruz".

Neste período, os textos sobre Timor aparecem sempre ligados aos de Solor, pois esta ilha apresentava melhores condições de refúgio para as embarcações durante as monções. Solor e Timor formaram uma única capitania, desde 1561, remontando a este ano o início da evangelização destes povos, após a chegada do Pe. António da Cruz, o qual dirigiu, nos anos subsequentes, a construção de uma pequena fortaleza.

Constata-se pois, que são os religiosos da Ordem dos Pregadores, nome porque são conhecidos os Dominicanos, quem inícia a Missionação em Timor e ilhas circunvizinhas, onde permaneceram desde o Sec. XVI até à extinção das ordens religiosas em Portugal e domínios ultramarinos, decretada por D. Pedro IV em 30 de Maio de 1834. A estes missionários, os quais por diversas vezes governaram a ilha, se fica a dever, em grande parte, a preservação da cultura e da influência portuguesa na região

A segunda metade do sec. XVI regista a chegada dos primeiros adversários europeus, os holandeses, que lograram partir no alvor do novo século, desalojar os portugueses em grande número dos seus portos estratégicos no Oriente e, designadamente, Ternate e Amboino e, mais tarde, Solor.

Em Timor prosseguia o comércio de sândalo, muito apreciado na China e avançava a obra de missionação, em 1640, ano da Restauração da Independência de Portugal, registava-se a existência de 22 igrejas, ainda que rudimentares.

Os reinos cristãos foram então apoiados por uma expedição militar comandada pelo Capitão-Mor de Solor, Francisco Fernandes.

Em 1651 os holandeses instalaram-se em Kupang (denominado cupão pelos portugueses), no extremo oeste da ilha. Perante o constante incremento da sua actividade em todo o arquipélago, o Vice-Rei da Índia, António de Melo e Castro, nomeou um capitão-mor para Timor. Tendo a escolha recaído no Capitão Simão Luis, o qual levantou a primeira fortaleza em Lifau (Ocussi), entretanto arvorada em capital do território. Simão Luis realizou obra notável, quer de pacificação quer de oposição aos holandeses, tendo falecido em 1664.

A ocupação continua, porém, confinada aos missionários que agora têm de se deslocar para leste, pois a influência holandesa torna-se cada vez mais importante na parte ocidental da ilha.

Resta referir quanto a este período que a guerra da Restauração, impediu o reforço e o refrescamento das guarnições do Oriente, pelo que os pontos estratégicos foram sendo sucessivamente perdidos, ora a favor dos Holandeses ora dos Ingleses. Assim, Malaca caiu em 1641 assinalando o começo do desmoronamento do império do Oriente, mitigado, embora, com o Tratado de 1661, que pôs termo à guerra entre holandeses e portugueses. Parece que, além do Tratado, foi celebrado um acordo entre a Companhia das Índias Orientais e o Governo de Timor, pelo qual era reconhecida a soberania portuguesa em Solor e Timor e a posse holandesa de Cupão e Laboína.

De 1665 a 1769
O primeiro Governador, a Pacificação e a Transferência da Sede do Governo para Díli

Após a morte de Simão Luis, o Vice-Rei da Índia nomeou Capitão-Mor de Timor, em 1666, a instâncias de Francisco Vieira de Figueiredo (rico mercador que assentara residência em Macassar, e que controlava, entre outros, os negócios do sândalo), o mestiço António Hornay, filho de um holandês e de uma timorense. Descontentes com esta nomeação dá-se um levantamento conduzido pelo régulo Cap. Mateus Costa e ao qual certamente não foram estranhos os frades de S. Domingos.

António Coelho Guerreiro é nomeado primeiro Governador de Solor e Timor, tomando como primeira medida o igualar em poder todos os reis da ilha, acabando com a supremacia de uns sobre os outros e tornando-os directamente dependentes da autoridade portuguesa. De igual forma incrementou aquele governador a generalização de patentes de oficial na hierarquia tradicional, medida que, como anteriormente se referiu, fôra introduzida pelo Governador Sotto Mayor em 1712.

No período que vai de 1719 a 1769 começam as desavenças com os religiosos de S. Domingos e recrudescem os ataques à soberania nacional por instigação holandesa. Este período corresponde a uma calamitosa e sucessiva série de sublevações a seguir enunciadas:

ü Campanhas efectuadas até à rendição do principal e sublevado chefe de Manatuto, Francisco Fernandes Varela e que culmina com o seu pedido de perdão lido em público e nas Igrejas em 16 de Março de 1732;

ü Acção dos Holandeses junto dos reinos hostis a Portugal, com o intuito de se apossarem da área de Surviang, 1732 - 1751;

ü Rebelião de Francisco Hornay e abandono da Praça de Lifau.

Pela sua importância apenas se refere, a Campanha contra Cailaco em 1726, amplamente documentada no Arquivo Histórico Ultramarino.

Conjurados por um pacto de sangue, diversos reinos do Surviang e alguns da província dos Belos, liderados pela Casa de Camnace, reuniram forças com o objectivo de pôr termo à soberania portuguesa.

Levantaram-se contra a nossa soberania os Reinos de Camnace, Lamac-Hitu, Cailaco, Leo-Hitu, Sanir, Atsabe, Lei-Mean, Ai-Funaro, Diribate, Hermera e outro grupo que contava com o apoio de Francisco Hornay, irmão de António Hornay.

Todos estes reinos se entregaram a excessos, incendiando Igrejas, atacando pessoas e causando a morte, inclusivamente, a dois missionários, os P.P. Manuel Roiz e Manuel Vieira.

Com a chegada do novo Governador António Moniz de Macedo viveu-se um período de acalmia mas, em breve, as hostilidades recomeçam, levando o Governador a decidir atacar as revoltas no seu âmago - o Reino de Cailaco - que conseguira agrupar cerca de 4.000 homens, provenientes de vários reinos vizinhos.

A campanha de Cailaco durou de Outubro de 1726 a Dezembro desse mesmo ano, tendo o primeiro confronto sido registado entre os sublevados e os reis fiéis de Maubara e Cotugaba, com assinalável sucesso para os reinos fiéis, liderados pelo Capitão de 2ª linha Bento Dias.

Entretanto reunem-se em Lifau, Gonçalo de Meneses e Joaquim de Matos, a fim de estabelecerem com o Governador o plano de assalto final ao Monte Cailaco e que consistia em sitiar o monte com os reinos fiéis, escalá-lo e obrigar os sublevados a renderem-se.

Gonçalo de Menezes reuniu e organizou os reinos da província dos Belos e Joaquim de Matos comandou uma Companhia de Sicas com os arraiais do Surviang. Missões especiais foram confiadas aos régulos Coronel D. Vasco Santos Pinto e D. Ventura Costa dos Remédios e ainda D. Bernardo, régulo de Samoro.

O ataque ao pessoal entrincheirado na montanha iniciou-se em Outubro de 1726, sob comando de Joaquim de Matos, tendo sido destruídas as primeiras linhas de defesa a 26 do mesmo mês e prosseguindo a escalada durante o mês de Novembro. Gonçalo de Meneses estabeleceu-se em Tibar a 23 de Outubro e começou a subir a montanha de Mandora em direcção a Hermera, indo depois acampar na base do Monte Cailaco em Nâni-lati, do lado norte.

A aspereza do terreno, os múltiplos esconderijos nos rochedos, os lugares a que apenas se acedia por lianas, a época das chuvas que entretanto chegou, dificultando o uso da pólvora e a carência de alimentos perante a duração da campanha, conduziram a que os sucessos obtidos não tenham sido totais, sendo contudo suficientes para ser entendidos pelos reinos sublevados sobretudo, após o aprisionamento de D. Aleixo o chefe Lácu-Mali e de mais alguns datós.

A pacificação prosseguiu tendo sido assinada em 16 de Março de 1732, em Manatuto, um acordo para a paz geral.

A acção de sabotagem dos Holandeses não afrouxa e alguns anos depois a agitação renasce, em regra a pretexto do pagamento dos impostos, em muitos casos, pela arbitrariedade com que eram lançados. A situação de instabilidade, mantém-se até à chegada do Governador António Teles de Meneses em 1768, o qual perante o isolamento de Lifau, numa zona de crescente influência holandesa e de difícil defesa, transferiu em 11 de Agosto do ano seguinte, a sede do Governo e a capital para Díli, abandonando a fortaleza de Lifau depois de a incendiar .

De 1769 a 1896
A Guerra dos Doidos, o documento Sarzedas, o Acordo de Cedências e Limites com os Holandeses de 1851, o Tratado de 1859.

A instabilidade social espelhada na "guerra dos doidos" com o Reino de Luca, manteve-se até 1785, altura em que o Governador Vieira Godinho conseguiu com prudência e bom senso, pôr-lhe termo e, além disso, alcançar valorosas alianças no combate à influência holandesa.

Sucederam-lhe no cargo Francisco Nogueira Lisboa, que teve graves desavenças com o prelado D. Freitas da Cunha e, em 1790, com Joaquim Xavier Morais Sarmento, com brilhante folha de serviços ao serviço do território.

Entretanto, os ingleses ocupam Banda e Amboíno e, em 1799, governando José Baptista Varquim, dá-se um grande incêndio em Díli, que destruiu, praticamente, todos os arquivos do Estado.

As lutas entre os reinos e o cerco ao comércio pelos navios ingleses, reduzem, neste período, os rendimentos do sândalo.

Em 28 de Abril de 1811 o Vice-Rei da Índia, Bernardo José Maria de Lorena, Conde de Sarzedas, produziu um célebre documento que continha instruções e ordens para o Governador Vitorino Freire da Cunha Gusmão.

Este extenso documento com 96 artigos, ficou conhecido por documento Sarzedas constituindo, também, uma completa e sintética história política, religiosa e militar de Timor.

Em 1815, o Governador José Pinto Alcoforado expande a cultura do café, com grande proveito para a colónia e, em 1818 os Holandeses ocupam Atapupo e a ilha de Pantar.

Um relativo período de acalmia caracterizou as duas décadas seguintes, tendo em 1844 Macau e Timor, deixado de depender do Governo do Estado da Índia. Timor passou a constituir um distrito de Macau.

A Holanda lança-se, então, numa grande ofensiva diplomática, com o objectivo de alcançar a maior expansão possível na região, naturalmente, à custa dos territórios sob administração portuguesa o que, parcialmente, conseguiu à custa da inabilidade e incompetência do Governador Capitão de Mar e Guerra José Joaquim Lopes de Lima, de resto, o primeiro a ser investido na categoria de Governador Geral. Antigo Governador Civil de Coimbra, Lopes de Lima, não só não tinha capacidade administrativa como, sobretudo, não tinha bom senso, como o provara numa comissão na Índia. Suscitada a questão dos limites das fronteiras da ilha, o Governador negociou, em 1851, directamente com as autoridades holandesas na região um tratado, pelo qual, reciprocamente, se reconhecia a situação de facto e se aceitavam os limites daí resultantes quanto à divisão da ilha de Timor.

Exorbitando os seus poderes, Lopes de Lima acordou na cedência da ilha das Flores e desistiu das pretensões portuguesas sob o grupo de ilhas de Solor, recebendo como contrapartida o Reino de Maubara encravado no nosso território e uma quantia de 200.000 florins, em três prestações, das quais o Governador recebeu logo em Batavia, 80.000 florins, com que fez face às inúmeras carências do território.

Este acordo não foi aprovado pelas Câmaras, nem pela Coroa, que não pretendia, obviamente, alienar qualquer parcela do solo dito nacional.

Lopes de Lima morreu em Batavia quando regressava a Portugal sob prisão, resultando, porém, dos textos consultados, que sempre agiu na convicção de ter procedido no interesse da "Colónia".

Pretendeu o Conselho Ultramarino em Janeiro de 1854, anular o acordo e devolver os 80.000 florins à Holanda, mas era tarde e o Governo não teve outra alternativa senão negociar com a Holanda. Destas negociações resultou o texto do Tratado de 6 de Outubro de 1854 que ratificado pela Câmara dos Deputados, foi, contudo, rejeitado pelos Estados Gerais dos Países Baixos. As questões levantadas quanto à interpretação e aplicação deste Tratado, designadamente pela falsa questão religiosa, conduziram a que se prolongassem, por mais alguns anos, as trocas de notas diplomáticas entre ambos os Governos até que Fontes Pereira de Melo, que fora um dos negociadores, ascendeu a Ministro do Governo presidido pelo Duque da Terceira e, perante a irredutibilidade da Holanda em aceder ao nosso ponto de vista, decidiu pôr ponto final no assunto, mandando assinar o Tratado dos limites em 20 de Abril de 1859 . O Tratado era, na prática, igual ao acordo de Lopes de Lima de 1851 e às bases de 1854.

Díli é elevada a Cidade em 1864. Nos anos que se seguem, continuam os esforços dos diversos Governadores, com vista ao progresso da Colónia, particularmente, incentivando a agricultura, promovendo a instrução e a realização de algumas obras públicas, isto apesar dos limitados recursos e dos crónicos déficits dos orçamentos. Destaca-se o plano rodoviário executado de 1881 a 1888, a construção do farol do porto, o estabelecimento de um plano de povoamento europeu e a abertura das primeiras escolas públicas.

A instabilidade não abandonara, porém, a ilha, constituindo meros exemplos desse estado latente, a sublevação de Daholo e as revoltas de Catubaba e Cova. Com a chegada do novo Governador Celestino da Silva, as coisas iriam mudar. Fechando este ciclo o Decreto de 21 de Outubro de 1896, que torna Timor independente de Macau.

De 1896 a 1945
A acção do Governador Celestino da Silva, a proclamação da República, a 1ª Guerra Mundial, a ocupação nipónica durante a 2ª Guerra Mundial

O Coronel de Cavalaria, José Celestino da Silva governou Timor durante catorze anos, doze dos quais gastos na pacificação do território. Porém, a sua esclarecida acção governativa fê-lo conduzir, em simultâneo com as operações militares, uma inteligente política de atracção das populações locais e de vigoroso impulso das culturas do café, milho, arroz, canela, borracha, cacau, noz-moscada e ainda, do plantio de árvores de frutos, tendo ainda regulamentado o corte do sândalo.

Mandou levantar numerosas escolas e iniciou-se a instrução das raparigas, em colaboração com as religiosas canossianas. Referem textos recentes que Celestino da Silva, ainda é recordado em Timor.

Neste período de pacificação, distinguiu-se o Alferes Francisco Duarte "O Arbirú" , verdadeiro Lawrence de Timor, como lhe chamou Luna de Oliveira. Dotado de grande fibra, era um lutador temível e ao mesmo tempo um hábil diplomata junto dos timorenses, ao ponto do seu prestígio correr fama de arraial em arraial, sendo referenciado como Dátu­Lulic, o que significa o imune às munições.

Referem os textos que era um brilhante condutor das massas gentílicas e que "nos baluartes e tranqueiras o seu vulto imponente de cavaleiro audaz impunha respeito e superstição. "O Arbirú" morreria, em combate em Fátu-Bicar, nas faldas do Atabai em 1897, numa campanha contra os reinos rebeldes do Oeste, encontrando-se sepultado no cemitério de Santa Cruz em Díli. Ao Alferes Duarte se referiu o Governador nestes termos "não conheço ninguém mais bravo e mais digno de honrosas distinções".

Apesar dos acordos e tratados celebrados e da convenção de Haia de 1 de Outubro de 1904 sobre os limites da fronteira, definitivamente fixados pela sentença de M. Lardy em Junho de 1914, os holandeses não afrouxaram as pretensões de se apropriarem da Colónia e aproveitando as dúvidas que a implantação da República provocou no território - os reinos vassalos da coroa de Portugal não conseguiam compreender como é que de um dia para o outro tinham de mudar de Bandeira - instigaram diversas sublevações, pelo que o primeiro Governador do novo regime, Filomeno da Câmara teve, ainda, que se envolver em duas campanhas militares.

Em 1910, uma vez mais, as regras em vigor no Continente, aplicadas a realidades diferentes, determinaram, também em Timor, a expulsão de religiosos e o consequente encerramento da maior parte das escolas que existiam no território e que só reabririam em 1924.

Os Governos que se seguem ao de Filomeno da Câmara prosseguem a acção de desenvolvimento e fomento da instrução, apesar das reduzidas receitas orçamentais, de resto, apanágio de toda a colonização portuguesa. Com o final da primeira guerra mundial, Portugal ainda tentou reaver os territórios perdidos pelo Tratado de 1859, mas o nulo peso político do País, junto da Comunidade Internacional votou ao insucesso esse desejo.

A estabilidade e o lento desenvolvimento do território, constituíram a principal característica deste período da vida de Timor, apenas recordado pelo Governo da Metrópole quando para ali enviava degredados políticos e outros.

O ataque japonês a Pearl Harbour em 7 de Dezembro de 1941, serviu de pretexto para, em 17 do mesmo mês, desembarcar em Díli uma força australo-holandesa.

O Governo, presidido por Oliveira Salazar, protestou e conduziu negociações para a substituição daquelas tropas pelo exército português. Porém, em 19 de Fevereiro de 1942 e a pretexto da presença de beligerantes na ilha, os japoneses invadem Timor, aí permanecendo até Setembro de 1945.

A ocupação japonesa foi brutal e destrutiva, provocando mais de 40.000 mortos, não apenas entre os que não se submeteram ao invasor, mas, também, pela falta de alimentos. Morre em combate, em defesa da soberania Portuguesa, o régulo D. Aleixo , herói da história luso-timorense.

Um outro heroico timorense é Patrício José da Luz, nascido em Díli, em 1913.

Patrício Luz era em 6 de Dezembro de 1941, chefe do serviço radiotelegráfico de Timor, tendo conseguido captar e descodificar as mensagens do navio de guerra Japonês Nassey Maru e informado de imediato os seus superiores possibilitando, em tempo útil, que um bombardeiro da R.A.F. tenha, em 8 de Dezembro afundado aquele navio.

Fica para a história que este foi o primeiro navio nipónico afundado pelos Aliados no Pacífico, precisamente no dia seguinte ao ataque a Pearl Harbour.

Nos anos seguintes colaborou activamente com as tropas australianas, como membro activo da guerrilha que não deu descanso ao invasor.

Este nosso compatriota foi agraciado pela Rainha Isabel II com a comenda de Jorge VI, possuindo, ainda, as medalhas "Pacific Star", "1939-1945 Star", "War Medal" e "Australia Service Medal".

Em 1951, Timor passou a ser "uma província do Ultramar", contudo, tal estatuto não alterou o curso da seu lento desenvolvimento, pois, a gestão do Estado Novo foi sempre orientada numa óptica conservadorista, passando ao lado da industrialização e do desenvolvimento acelerado que caracterizou as políticas económicas do pós-guerra, não só dos principais países europeus mas também dos asiáticos, particularmente dos que foram devastados pelo segundo conflito mundial.

Não admira, pois, que Timor se encontrasse numa situação de atraso significativo, no período imediatamente anterior a 1974, apesar de se ter construído um aeroporto em Baucau e de um cais acostável em Díli, não havia estradas asfaltadas no interior, o que impedia a circulação e transportes na época das chuvas, a electricidade só no começo da década de sessenta chegara a Díli, não existia uma única indústria de manufacturação, o ensino sofrera contudo progressos, mas ainda muito longe das necessidades, o território estava, mais do que nunca dependente da produção do café que representava 80% das receitas da província, mas cuja produção dependia, obviamente, das condições atmosféricas, sendo então o rendimento per capita de 40 US Dlrs.

A pouca importância que o País deu a Timor, fica espelhada na circunstância de, com raras excepções, os manuais escolares e os compêndios de história política e militar, praticamente não se lhe referirem e quando o faziam, gastavam pouco mais de meia dúzia de linhas.

Chegamos, assim, às páginas mais dolorosas e trágicas da história luso-timorense, ou seja aos acontecimentos subsequentes ao 25 de Abril de 1974.

Ainda é cedo para analisar, friamente, a descolonização de Timor, pois, não só não passaram anos suficientes sobre os factos, como muitos dos actores ainda se encontram em cena ou dela já saíram há muito tempo.

Porém, alguns pontos constituem referências inquestionáveis, sendo certo que Timor não dispunha de dimensão e recursos para ser independente, como muita documentação internacional o reconhecia e reconhece, a verdade é que, na euforia da revolução de Abril, o conceito de autodeterminação foi aplicado sem se atender à especificidade do território. Assim, foi fomentada a criação de partidos e, desta forma se lançou o rastilho à pólvora, a luta fratricida não se fez esperar e num pequeno lapso de tempo se passou da guerra à vindicta pessoal e à fome.

Não tendo logrado apoio logístico e moral da Metrópole, dado o clima social e político que, também, aqui se vivia, o último Governador, impotente para controlar a situação que, por omissão, ajudara a criar, decidiu transferir o Governo para a ilha de Ataúro. Assim, no dia 26 de Agosto de 1975, à meia-noite embarcou, debaixo de fogo de morteiro, para a ilha de Ataúro, deixando atrás de si, o território a ferro e fogo.

Realmente, de 26 de Agosto a 7 de Dezembro, Portugal apesar de algumas diligências sem sucesso, com vista à obtenção de apoio de forças internacionais para intervirem no território, não conseguiu repor a legalidade e a ordem. Não admira, pois, que a Indonésia tenha, a pretexto de pôr termo ao caos político e económico e à efectiva ausência de poder, invadido o território. As negociações políticas que precederam esta invasão, entre os Estados Unidos da América, a Indonésia e o papel dos governantes portugueses só agora começam a ser conhecidas.

O Prof. Adriano Moreira resumiu de forma exemplar o que sempre seria o destino de Timor ".... Caso indiscutível de falta de vocação nacional para a independência, e dificilmente poderiam alinhar-se, em relação ao território, os índices de exploração colonial. Era um território identificado politicamente apenas pela ligação a Portugal, e mais nada.

O seu destino, supondo arredado o contexto político português, sabia-se que estaria sempre dependente de interesses de outras potências, coisa publicamente analisada e discutida pelos comentadores. A substituição de uma soberania por outra foi sempre considerada a mais provável das hipóteses, e por isso o processo de separação também exigiria sempre acordo internacional negociado e prévio."

Terminou, assim, em Dezembro de 1975, de forma desordenada e sangrenta, uma convivência de mais de quatrocentos e cinquenta anos que, embora nem sempre pacífica, muitas vezes por força da manipulação holandesa e chinesa, foi caracterizadamente marcada pela afectividade a Portugal.

Importa, ainda, ter presente que, como disseram Pimenta de Castro, "As revoltas não provam a animadversão total pela soberania " e Álvaro Fontoura "As revoltas da população timorense, nunca representaram em geral repúdio pela dominação portuguesa, muitas delas foram-no dirigidas contra alguns governos da Colónia, em regra por as autoridades estarem aliadas com inimigos tradicionais" e, ainda Afonso de Castro, "As rebeliões que em Timor têm estalado, não foram sufocadas senão pelos próprios timorenses".

Confirmando tudo o que antecede, deve dizer-se que as forças militares do território foram, em regra, recrutadas entre os naturais da ilha, onde os efectivos europeus foram sempre diminutos. Faria de Morais refere "Houve tempo, em que, em Timor não havia mais do que sete portugueses" .

Regista-se, por fim, um facto seguramente sem precedentes, que foi o de terem sido os timorenses quem, em Agosto de 1945, após a rendição dos japoneses, repôs a administração portuguesa, dispensando a intervenção da força expedicionária que só ali chegou a 5 de Setembro. A chegada do Comandante da força, Brigadeiro Varejão, a Dílí ficou assinalada pelas honras militares prestadas por quase todos os chefes indígenas de Timor, alinhados em frente ao que restava do edifício da Câmara, com as respectivas bandeiras Nacionais e que, em coro, entoaram "A Portuguesa" ."

Organização tradicional Timorense

"5. Organização tradicional Timorense

Os Reinos

Hélio Augusto Esteves Felgas na obra Timor Português, na parte destinada à organização político-social, escreveu:

«A ilha de Timor dividia-se em uma série avultada de reinos ou regulados, todos mais ou menos independentes entre si. Parece, no entanto, que os 46 reinos da parte oriental da ilha – província dos Belos chamada, e que correspondia aproximadamente ao actual território português mais a região de Atambua, agora indonésia – reconheciam o predomínio do regulo de Behale. E, por seu lado, os 16 reinos da parte Ocidental – denominada província do Servião – suportavam a supremacia do régulo de Senobai que usava o título de imperador.

O Behale nos Belos e o Senobai no Servião , eram portanto, os grandes potentados de uma ilha toda retalhada em reinos que teimavam em manter entre si uma feroz independência. Cada um destes regulados era governado por um “Liurai”, a quem os portugueses chamaram primeiro rei e mais tarde régulo, e incluía um certo número de “ sucos” cada um deles formado por um dado número de povoações. Tanto o “Liurai” como o chefe de suco eram “Dató”, isto é, príncipes, podendo sê-lo também algum chefe de povoação. Os “Dató” formavam uma classe aparte, a da nobreza, e diziam-se senhores da terra, a eles pagando o povo um imposto – o “rai-ten” – que servia de licença para cultivar dado trato.»

Como se pode ler, os reinos supra citados tinham uma certa organização, e se não eram regidos por leis escritas, possuíam estes modos de governação tão grande importância que ainda hoje, passados tantos séculos, se mantêm mais ou menos inalterados.

A Hierarquia

A hierarquia local compreende os reinos com suas jurisdições e datós que, por seu turno, se dividem em sucos, e estes em aldeias, leo, lissa, ou ili, conforme os dialetos. O régulo, em geral, é o senhor da jurisdição mais poderosa. O dató ou cabeça do reino ("nai ulum" em tétum, e "arangarem" em galóli) é o representante do seu suco, da sua povoação, e recebe do major da casa militar do régulo, considerado o chefe principal de todos os sucos do reino, as ordens do liurai (régulo), para ele ou para a sua povoação. O chefe da outra jurisdição deve obediência ao régulo, embora seja um régulo dentro do seu dató.

As casas Militares

Deve-se ao Governador Afonso de Castro que governou a ilha de 1859 a 1863, a criação da divisão dos reinos em distritos e a atribuição da responsabilidade pelo acatamento das ordens do Governo aos próprios chefes indígenas. A autêntica hierarquia militar existente, dentro das estruturas gentílicas, fora aperfeiçoada e fixada pelo Governador Manuel Sotto Mayor em 1712, com a atribuição de postos de comando, similares ao das tropas regulares.

" A casa militar do régulo está rigorosamente hierarquizada e compõe-se de um coronel regente, um tenente-coronel, um major, um capitão, um tenente e um alferes. São os oficiel, como se diz em tétum. Os varões das famílias dos liurai ou aran (o régulo) e do coronel têm o título de principais. Abaixo do alferes, o povo do reino."

Estas patentes permanecem até aos nossos dias e constituem uma das expressões da peculiar colonização de Timor. A defesa da soberania nacional, o respeito pelos símbolos da nação, designadamente, pela Bandeira, a não submissão ao invasor japonês durante a 2ª Guerra Mundial, a resistência ao ocupante indonésio a partir de 1975, decorrem, para além do espírito guerreiro do povo timorense, da ancestral e inequívoca hierarquia de comando."

Os primeiros contactos dos Portugueses com a Ilha de Timor

"4. Os primeiros contactos dos Portugueses com a Ilha de Timor

Em meados de Novembro de 1511 partiu de Malaca, por ordem de Afonso de Albuquerque, uma armada comandada por António de Abreu com destino às ilhas das especiarias, esta armada tinha uma guarnição de 120 homens e era formada pela nau capitania Santa Catarina, pela Sabaia, comandada por Francisco Serrão e por uma Caravela latina sob comando de Simão Afonso Bisagudo.

A referida armada seguiu pelo estreito de Sabão e pelo de Berhala, deixando assim por bombordo as ilhas do arquipélago de Linga. Continuando a costear Samatra, atravessou o estreito de Banca e, depois, o de Lucipara, entre a ilha deste nome e a referida ilha de Samatra. Navegou em seguida para leste, ao longo da costa de Java, passou pelo norte de Madura e tomou o estreito de Sapude onde, perto da ilha do mesmo nome, se perdeu a nau de Francisco Serrão que "ia fazendo muita água".

Abreu, conseguindo salvar toda a tripulação da nau naufragada, distribuiu-a pelo seu navio e pela caravela de Simão Afonso, e prosseguiu com a sua frota aproximou-se da ilha de Bali, onde costeou bem como, depois, as de Lomboc, Sumbava e Flores.

Até ao cabo das Flores, extremo nordeste da ilha, a navegação deve ter sido feita, na sua maior parte, somente durante o dia.

Segundo relatos da época, Timor foi seguramente, visitada por Francisco Serrão entre 1511 e 1514, o qual em consequência de dois naufrágios, primeiro da nau Sabaia, perto do estreito de Sapude e mais tarde do junco que entretanto a substituiu, em Lucipara, perdeu contacto com a armada em que se integrava e ficou retido vários anos pelas diferentes ilhas deste arquipélago.

Voltando à viagem de António Abreu, importa realçar que a mesma fez parte de um conjunto de viagens programadas no Reinado de D. Manuel I, nas quais os portugueses percorreram os mares do oriente e as ilhas das especiarias e que levaram à China em 1513, Jorge Alvares (ilha de Tamão hoje Lin-Tin) e em 1515 e 1517 Rafael Perestrelo e Fernão Peres de Andrade, respectivamente, à Austrália em 1522 Cristovão de Mendonça e à actual ilha de Palau, Gomes Sequeira, esta durante muito tempo confundida com a Austrália e, finalmente, Francisco Zeimoto, António da Mota e António Peixoto ao Japão em 1543.

A pequena ilha Solor foi visitada em 1551, por um fidalgo chamado João Soares, que se relacionou, excelentemente, com o rei gentio que converteu ao cristianismo. A partir de 1561 foi evangelizada pelos dominicanos vindos de Ludaca, a quem foi concedido o privilégio de nomear o Capitão da fortaleza. Em 1613 passou a chamar-se "Fort Henricus" após ocupação holandesa e que, perdida, voltou a ser reconquistada pelos Países Baixos em 1618.

Timor constituiu com Solor uma mesma capitania a partir de 1561 e, pode dizer-se, que teve sempre vida atribulada, pela constante influência de holandeses e chineses procurando sublevar os povos Indígenas contra as autoridades portuguesas.

Timor foi o último baluarte da presença portuguesa na Oceânia, remontando a 1702 o estabelecimento da primeira sede do Governo em "Lifau" hoje Ocussi, localidade que, de resto, viveu em permanente instabilidade, provocada pelos cercos e combates com holandeses e "Topazes".

Em 1769 o Governador António Teles de Menezes, transferiu a sede da administração portuguesa para Díli, onde desde o Sec. XVI existia uma feitoria."

Timor - Sua localização

"3. Timor, sua localização

Geografia física

Timor, Ilha de 32 225 km2 localizada no imenso arquipélago Indonésio, entre 8º 17´ e 10º 22´ de latitude sul e de 124º a 127º 19´ de longitude leste de Greenwich. É repartida por três territórios (Timor Leste, Timor Ocidental e o Enclave do Ocussí), localizados no arquipélago das pequenas Sonda situada a meio caminho entre as Sulawesi (Celebes) e o Norte da Austrália.

A Ilha de Timor, que se orienta na direcção SW-NE, é banhada, a Sul, pelo mar de Timor, que a separa da Austrália, e a Noroeste pelos detritos de Savo e Vetar, que a separam de várias outras ilhas indonésias e da ilha de Ataúro.

Tanto Timor, como Ataúro, fazem parte dos conhecidos arcos insulares, em grinalda, que formam os arquipélagos da Grande e da Pequena Sonda.

Enquanto Ataúro é uma das ilhas mais pequenas do chamado arco setentrional, Timor é a mais extensa e importante do Arco externo ou meridional. Assim Timor é inteiramente sedimentar, predominando calcários e xistos antigos, com alguns afloramentos de rochas cristalinas e recifes de coral, existem também zonas pantanosas e zonas alagadiças, próprias para o cultivo do arroz.

A superfície total do território é de 18 899 Km2, dos quais 17 900 Km2 correspondem á parte principal, 850 Km2 ao enclave de Oé-Cusse, 144 Km2 á ilha de Ataúro e 5 Km2 a ilhéu de Jaco. Os limites terrestres foram estabelecidos pelo tratado com a Holanda de 20 de Abril de 1859, a que se seguiu o convénio de 10 de Julho de 1893, que suprimiu alguns enclaves. Pela Convenção de Luso-Holandesa de Haia, de 7 de Outubro de 1904 foi a rectificação legalizada. A delimitação do enclave de Oé-Cusse foi submetida á arbitragem do Governo suíço, que se pronunciou por sentença de 25 de Julho de 1914.

Relevo e Hidrografia

O território é em regra escarpado, com altas montanhas que caem abruptamente sobre o mar ao largo da costa setentrional, diversos picos ultrapassam os 2000 metros em altitude como o Ramelau com 2950 m, o Matabia com 2380 m, o Cablac com 2100 m, merecendo ainda citação o Cailaco com 1916 m e o Mundo Perdido 1775 m e na parte ocidental, no antigo território sob governo holandês, o Mútis com 2400 m. Uma cordilheira central de montanhas forma uma vertente com rios que correm para o Sul e para o Norte com grandes caudais na época das chuvas, sendo a planície costeira meridional ampla com zonas de assoreamento e de pântanos na desembocadura dos rios.

Clima e Condições Meteorológicas

O clima de Timor integra-se no tipo de climas quentes (média anual de temperatura superior a 20ºC) de tipo equatorial, variedade de monção, a que pertencem também Java, Samatra, Bornéu, etc.

Há a considerar, todavia, a influência preponderante que as altitudes exercem sobre a temperatura média indicada, podendo, de uma maneira geral, dizer-se que o clima é quente nos locais de altitude inferior a 1200 m, temperado nas zonas de altitude superior aquela (médias anuais entre 10º e 20º) e oceânico em todos os locais, por ser a amplitude média de variação anual inferior a 10ºC. Os meses mais quentes são os das grandes chuvas, de Dezembro a Abril.

No que respeita aos ventos, Timor situa-se na região que sofre, alternadamente, a influência da monção asiática, que sopra de Dezembro a Maio, trazendo as chuvas que caiem em toda a ilha, e da monção australiana, que sopra de sudeste para noroeste de Junho a Outubro. O valor médio anual de precipitação varia entre 500 e 1000 mm no litoral norte, entre 1000 e 2000 mm principalmente no litoral sul e superior a 2000 mm nas zonas altas da região central e da vertente meridional da ilha. As médias anuais têm, geralmente, os valores mais altos em Janeiro e Fevereiro e os menores em Agosto e Setembro.

Território e Fronteiras

A ilha de Timor foi dividida entre Portugal e a Holanda pelo Tratado de 20 de Abril de 1859, que só teve execução em 1861. Por este tratado, Portugal ficou com a região dos reinos de Belos, a parte a que hoje chamamos de Timor Oriental, cabendo à Holanda a remanescente parte ocidental da ilha, também chamada de Servião.

A 10 de junho de 1893, foi feito um convénio entre os dois países para revisão das fronteiras, facto que só veio a acontecerem 1902, em Haia. Com a ratificação da Convenção luso‑holandesa de 1 de Outubro de 1904, Portugal cedeu o reino de Naimuti por troca com o reino de Maucatar, sob administração holandesa, sendo a linha fronteiriça definida por marcas naturais do terreno. Portugal manteve o enclave do Oe-cusse Ambeno, na costa Norte da parte holandesa.

Assim, o Território de Timor Oriental abrange a parte oriental da ilha de Timor, o território do Oe‑Cusse Ambeno, a ilha de Ataúro e o ilhéu de Jaco, tendo por limites terrestres os designados na Convenção luso-holandesa de 1 de Outubro de 1904 e na sentença arbitral de 25 de junho de 1914.

Vegetação

Apesar de Timor ser uma ilha de vegetação abundante e de formação florestal bastante diversificada, não apresenta o aspecto luxuriante característico das grandes ilhas de Sonda.

O clima, o relevo, e o solo determinam fisionomias paisagísticas que, no decorrer dos tempos, se modificaram pela acção do homem.

Em vir­tude do acentuado relevo a da intensa acção erosiva na época chuvosa, os solos, com excepção dos da planície, são pobres, sendo a vegetação predominantemente arbustiva.

Encontram‑se regiões de floresta na ponta Leste da ilha a na costa Sul, muito mais exuberantes que as da parte Oeste e da costa Norte, devido ao efeito do clima e da consequente ocupação do homem.

Os principais tipos de floresta primária são o mangal, a floresta do lito­ral, a floresta primária mista e a das zonas montanhosas.

O mangal é característico do litoral marítimo e emerge das próprias águas salgadas ou salobras, são de várias espécies mas apresentam as mesmas faculdades de adaptação e distribuem‑se regularmente em li­nhas paralelas ao litoral.

A floresta do litoral dispõe numa estreita faixa junto do mar e com­preende uma flora geralmente pobre em espécies, mas são abundantes na costa Sul.

A floresta primária mista apresenta as suas formações características na zona Leste da ilha, onde é cerrada, com coberturas espessas e orlas fecha­das por cipós entrelaçados, tornando‑se quase impenetrável nas regiões baixas. As espécies dominantes são dos géneros Eugenia, Intsia, Elaeocarpus, Dysoxylum, Ficus, etc. Nas zonas médias os espaços arborizados são mais abertos, notando‑se a ausência de trepadeiras, epifitas e mus­gos. Há vastas manchas de Eucalyptus. Em muitas regiões da costa Norte encontram‑se bosques de arbustos e árvores de pequena estatura.

Á medida que se sobe as formações vegetais aparecem isoladas e vão ra­reando, ao passo que aumentam os musgos e líquenes.

A floresta secundária, testemunha da acção do homem, cobre quase todo o território, assumindo três aspectos essenciais: formações den­sas de arbustos, pequenas árvores e trepadeiras, rodeando os bosques de floresta primária; ou tufos de bambus misturados com eucaliptos e fi­nalmente as savanas e pastagens, também secundárias em especial na região Leste.

Fauna

Esta ilha pertence à sub-região austromalasia da região zoogeografica oriental.

Entre os Mamíferos, são de salientar o « Ka-ka-ka »,Trichosurus vulpecula, o macaco «Macaca irus», o «banteng » Bibos sondaicus, o veado «Cervus timorensis».

Entre as Aves: o galo-do-mato «Gallus gallus», o pombo «Ptilinopus cinctus», o rei-das-rolas «Toracoena modesta», o lorico «Trichoglossus euteles», o « taduco » Eudynamus sclopacea everetti, o « téqui-béque » Halcyon australasia, o « mandou » Coracina novaehollandiae personata, o soldado velho «Lanius schach bentei», o « lumeta » Aplonis minor, e os « cacúa », nome dado ás espécies Sphecotheres viridis, Philemon buceroides e Myzomela vulnerata.

Dos Répteis são de citar: o « toké » Gecko verticillatus, e o lagarto-voador Draco timorensis; as cobras c.-verde Lachesis gramineus, a «c.-cacásse» Cerberus rhynchops; o crocodilo Crocodylus porosus e o lagarto Varanus timorensis.

No mar há abundância de peixe e tubarões. Nas ribei­ras, desde a nascente à foz, são de destacar os camarões, as enguias a as sanguessugas.

São numerosos os insectos, incluindo o mosquito anófele e imensas legiões de borboletas, pirilampos e abelhas que existem em grande quantidade no estado bravio, e ainda escorpiões e a venenosa aranha verme­lha. No litoral são notáveis os corais."

Timor - A Proto-história

"2. Proto-história

Apesar de Timor ter feito parte da esfera de influência dos reinos de Kadiri (1049-1222) e Majapahit (1293-1527), a influência da civilização indo-javanesa na ilha é quase imperceptível, subsistindo sinais apenas nas danças da região de Suai, de caracter tipicamente hindu.

A presença dos chineses em Timor, em busca de sândalo, está atestada desde o séc. XV, havendo referências a comerciantes chineses estabelecidos na terra desde o séc. XVIII. A sua influência cultural é irrelevante.

Nos sécs. XV-XVI, o reino muçulmano de Malaca manteve frequentes relações comerciais com Timor mas não conseguiu introduzir o Islão. O malaio, contudo, comunicou às línguas locais numerosos préstimos, tendo influenciado o traje e a culinária das populações litorais, bem como as técnicas de pesca e navegação."

Timor - A Pré-história

Durante mais de um mês não actualizei este blog em virtude de uma certa azafama de final de ano no trabalho que estou a levar a cabo. Com certeza que podemos adicionar alguma intensidade na vida social que felizmente é muito agradável.

Nos próximos posts proponho uma viagem descritiva de Timor-Leste que consta num texto que encontrei, no meio das coisas que os meus antecessores me deixaram. Este texto foi escrito ao que consegui apurar por Rodrigues Dias.

Espero que gostem, pois eu achei-o bastante detalhado sem ser maçudo e que vale muito a pena ler, pois acabamos por ficar bem informados sobre este país.


"Procurou-se de forma resumida, descrever neste pequeno livro algumas das páginas comuns à História de Portugal e de Timor, sem outra pretensão, que não seja a de contribuir para manter desperta a memória, para os problemas de um povo que conviveu mais de quatrocentos e cinquenta anos com os portugueses e, para o qual até a sombra da Bandeira Nacional era um símbolo sagrado.

1. Pré-história

Certos achados parecem provar que Timor foi povoado desde o Paleolítico por espécies anteriores ao Homo sapiens e que este só apareceu na ilha no Mesolítico. Datam provavelmente deste período as pinturas rupestres da região de Tutuala, de caracter mágico e simbólico como as suas contemporâneas do Norte da Austrália, Nova Guiné e várias ilhas da Indonésia Oriental.

Será igualmente deste período (c. 7000 a. C.) o mais antigo dos 4 estratos rácicos que subsistem mesclados na actual população timorense: o tipo vedo-australóide, de traços semelhantes aos dos aborígenes australianos e aos dos Vedás de Ceilão, que Mendes Correia identificou em 10 a 15 por cento dos timorenses que observou.

Outros 7 a 8 por cento dos timorenses parece resultar da migração da raça papua-melanésia (c. 3500 a. C.), de caracteres negróides mas sem parentesco com os negros de África, portadores da chamada civilização do machado oval. A esta migração devem remontar pelo menos 5 das línguas de Timor - Fataluco, Macalere, Macassai, Mídic e Búnac.

Os traços fundamentais da actual cultura timorense devem remontar à difusão da civilização do machado quadrangular, neolítica mais adiantada (c. 2500 a. C.), com a cultura de cereais, domesticação do búfalo, a olaria, a cestaria e a tecelagem. A construção de casas sobre estacas e o uso de almadia com balanceiro são os traços mais típicos dessa civilização que se encontram em Timor. Terá sido difundida pela migração da raça protomalaia, de características parcialmente europóides, que em Timor ocorre em cerca de 60 por cento dos habitantes, e à qual remontarão as restantes línguas timorenses, todas pertencentes ao grupo das austronésias ou malaio-polinésicas.

Cerca de 20 por cento dos habitantes timorenses é de raça deutero-malaio, raça originada pela fusão de populações mongolóides com os proto-malaios."